Evasão recorde de futuros Analistas em TI aprovados no Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) ameaça a continuidade dos serviços digitais no Governo Federal..
A Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação (ANATI) vem, mais uma vez, atualizar a sociedade sobre o cenário de desvalorização que afeta a carreira de Analista em Tecnologia da Informação (ATI) e o fracasso do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU). Em nossa última manifestação, demonstramos como as negociações conduzidas pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) foram marcadas por propostas sem aumento real, restrição de direitos e perda de competitividade salarial. Agora, os novos dados do CPNU confirmam que a falta de atratividade do cargo atinge patamares ainda mais alarmantes, comprometendo a continuidade dos serviços de TI na Administração Pública.
Desde o princípio, a ANATI alertou que a reestruturação não abordou problemas estruturais: os valores iniciais da carreira ficaram 14,06% abaixo do que se recebia no antigo Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE) somado à Gratificação Temporária do Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação (GSISP); a inclusão obrigatória de toda a remuneração na base previdenciária reduziu o valor líquido percebido por muitos Analistas em TI; e outras carreiras públicas conseguiram acordos mais vantajosos no mesmo período, evidenciando que havia margem orçamentária — mas não houve vontade política do Ministério de reconhecer a relevância técnica do cargo. Esse cenário de desvantagem, somado à fragmentação da gestão de TI em diferentes carreiras no próprio CPNU, resultou em uma carreira com baixa atratividade e sem perspectivas de progresso efetivo.
A recente conclusão das convocações para o curso de formação do CPNU confirma a baixa atratividade da carreira. Na primeira chamada, 300 candidatos foram convocados e 95 desistiram; na segunda, houve mais 23 abandonos. Na terceira chamada, após mais 6 desistências/abandonos, formou-se a lista final com 300 pessoas para a etapa de matrícula do curso de formação. Entretanto, conforme dados apurados pela ANATI até as 19h do dia 18/03/2025 (término do período de matrículas), apenas 209 efetivaram a inscrição no curso de formação. Somando todas as etapas, houve 215 desistências (95 + 23 + 6 + 91) em relação às 300 vagas, o que corresponde a aproximadamente 72% de desistência. Além disso, entre os 209 matriculados, muitos aguardam nomeação em outros concursos que oferecem remunerações iniciais superiores, sinalizando novas saídas e agravando o déficit de profissionais na área de TI do governo. Um levantamento recente realizado pela ANATI junto aos convocados no CPNU aponta que 22,4% dos aprovados já aguardam nomeação em outros concursos e, portanto, devem abandonar o cargo de ATI em breve, enquanto 63,3% declaram utilizar a carreira apenas como trampolim, diante da falta de perspectiva de longo prazo.
Esse cenário torna-se ainda mais crítico quando se constata que o cargo de ATI foi a 8ª vaga de menor concorrência entre as 175 oportunidades distribuídas nos blocos temáticos do CPNU e o 3º cargo de menor concorrência de todo o certame, em flagrante contraste com as declarações do Ministério de que teria sido “uma das carreiras mais disputadas do concurso”.
Esse quadro, conforme já alertado, tem resultado em uma evasão superior a 50% no quadro funcional de Analistas em Tecnologia da Informação (ATI) do Executivo Federal, com recorrentes dificuldades para o preenchimento das vagas nos concursos de 2013, 2015 e, agora, novamente em 2025. Trata-se de um fenômeno incomum em concursos públicos e extremamente prejudicial à qualidade dos serviços de TI prestados à população.
Sem medidas de correção, essa evasão tende a crescer ainda mais, pois a reestruturação implementada pelo MGI segue na contramão das tendências globais de valorização dos profissionais de tecnologia, comprometendo a eficiência, a segurança e a continuidade de serviços digitais essenciais à população. Trata-se de um prejuízo incontestável para a modernização do Estado, que precisa de Analistas em TI bem preparados e devidamente reconhecidos e valorizados para enfrentar desafios de transformação digital e proteção de dados.
Diante desse cenário preocupante, a ANATI solicita o apoio para a adoção de providências que evitem a descontinuidade dos serviços de TI do Governo Federal e assegurem a devida valorização da carreira, tais como:
- Apoio à Emenda nº 316, apresentada pelo Deputado Federal Gutemberg Reis (MDB/RJ) na Medida Provisória nº 1286/2024, que propõe soluções estruturais para o cargo de ATI.
- Reabertura imediata da Mesa de Negociação, para corrigir as distorções do atual acordo e garantir condições adequadas de remuneração e progressão, compatíveis com a importância estratégica da área de tecnologia da informação na administração pública.
A ANATI permanecerá atuante e alerta na defesa dos Analistas em Tecnologia da Informação, reiterando seu compromisso de evidenciar a realidade enfrentada pela categoria e de buscar, junto ao governo e ao Parlamento, soluções que de fato valorizem esses profissionais e protejam os interesses da sociedade na prospecção, implantação, implementação, entrega, gestão, gerenciamento e controle das políticas públicas digitais do Governo Federal.
Diretoria Executiva
Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação (ANATI)